quarta-feira, 24 de fevereiro de 2010
APRESENTAÇÃO DO BLOG
O blog, intitulado "O mundo da literatura: Vivenciando Ricardo Reis", tem como objetivo falar um pouco sobre a vida e a poesia do Heterônimo português de Fernando Pessoa, Ricardo Reis, considerado um dos maiores poeta de Língua Portuguesa. Queremos através deste proporcionar a cada leitor o privilégio de conhecer as mais lindas obras desse respeitável autor, lhes fornecendo imagens, poesias, capas de obras, além da biografia e artigo científico que postamos aqui. O nosso desejo é que vocês leiam, reflitam e apresentem o seu parecer em relação à aprendizagem que o blog lhes proporcionou.


quinta-feira, 4 de fevereiro de 2010
Letícia de Freitas
Lucimar Gonzaga
Rosângela Santos
O mito na poesia de Ricardo Reis
Resumo: No presente artigo pretende-se analisar o mito na poesia de Ricardo Reis, ícone da literatura Modernista portuguesa, partindo do pressuposto de que é uma representação constante em sua obra. Assim, serão analisadas algumas odes do referente poeta para uma melhor síntese.
Palavras-chave: Mito. Odes. Ricardo Reis. Literatura
Ricardo Reis, heterônimo de Fernando Pessoa, é o poeta clássico, da serenidade epicurista, que aceita, com tranqüila lucidez, a relatividade e a fugacidade de todas as coisas. “Vem sentar-te comigo Lídia, à beira do rio”, “Prefiro rosas, meu amor, à pátria” ou “Segue o teu destino” estes poemas nos mostram que este discípulo de Caeiro aceita a antiga crença nos deuses, enquanto disciplinadora das nossas emoções e sentimentos, porém defende, especialmente, a busca de uma felicidade relativa alcançada pela indiferença à perturbação.
Sua filosofia é a de um epicurista triste, que defende o prazer do momento “carpem diem” surge como abertura para a felicidade. Apesar deste prazer que busca e a felicidade que almeja conseguir, considera que jamais se alcança a verdadeira calma e tranqüilidade.
Ricardo Reis nasceu na cidade do Porto, a 19 de setembro de 1887. Estudou em colégio de jesuítas, formando-se em Medicina; politicamente, defendia a Monarquia, e por isto, se expatriou diretamente, para o Brasil em 1919. Foi um estudioso da cultura clássica, o que equivale a dizer: de latim, grego, mitologia etc.; Seus poemas foram escritos com uma linguagem contida e disciplinados, com versos puros. Existe uma grande preocupação métrica, uma vez que Ricardo Reis representa o lado clássico/neoclássico de Pessoa.
Neste trabalho pretende-se analisar o mito na poesia de Ricardo Reis, ícone da literatura Modernista portuguesa, partindo do pressuposto de que é uma representação constante em sua obra. Assim, serão analisadas algumas odes do referente poeta para uma melhor síntese.
O mito embora não seja um conceito bem definido de maneira precisa e única, configura como uma realidade antropológica indispensável, uma vez que não só representa uma explicação sobre a origem da humanidade e do mundo em que vive, como traduz por símbolos repletos de significados, o que vem a denotar o modo como um povo ou civilização entende e interpreta a existência. De acordo com MIRCEA (1994):
O mito é uma realidade cultural extremamente complexa, que pode ser abordada e interpretada em perspectivas múltiplas e complementares ele conta uma história sagrada, relata um acontecimento que teve lugar no tempo primordial, o tempo fabuloso dos começos. O mito conta graças aos feitos dos seres sobrenaturais, uma realidade que passou a existir, quer seja uma realidade tetal, o Cosmos, quer apenas um fragmento, uma ilha, uma espécie vegetal, um comportamento humano, é sempre portanto uma narração de uma criação, descreve-se como uma coisa foi produzida, como começou a existir” (MIRCEA, Eliade, 1994, p. 10).
Assim, esses dados oriundos de tempos remotos têm a ver com os temas que sempre deram manutenção à vida humana, constituíram civilizações e desenvolveram crenças através dos séculos, e têm a ver com os profundos problemas interiores, com os intensos enigmas, e com as mais intensas fronteiras da nossa travessia pela vida. Nesse sentido os mitos têm como tema essencial e fundamental que é à busca da espiritualidade interior de cada um.
Partindo desses pressupostos, Ricardo Reis adquiriu o exemplo do paganismo natural de Caeiro, onde cultiva o neoclassicismo neopagão, ou seja, tem uma absoluta crença nos deuses e nas presenças quase divinas que residem em todas as coisas, fazendo assim recorrência à mitologia greco-latina, e aprecia a brevidade e a efemeridade da vida. Considerando que sabedoria exata de vida é viver de maneira tranqüila e serena.
A perfeição verbal e a recorrência aos mitos, agregados aos princípios da moral e da estética epicuristas e estóicas ou serena resignação ao destino, são sinais do classicismo erudito de Reis. Poeta clássico da serenidade privilegia a ode, o epigrama e a elegia. Vale ressaltar que as referências aos deuses da antiguidade (neo-paganismo) greco-latina são maneiras de aludir a preferência corporal das formas, da natureza, dos aspectos exteriores, da realidade, sem cuidar da subjetividade, teorias de Caeiro, o mestre de todos os heterónimos.
Pode-se obter assim, de forma mais concreta, as características mitológicas que Reis utiliza em suas odes, dentre elas a ode “Anjos ou deuses”, escrito em 1914 .
Anjos ou deuses
Anjos ou deuses, sempre nós tivemos,
A visão perturbada de que acima
De nos e compelindo-nos
Agem outras presenças.
Como acima dos gados que há nos campos
O nosso esforço, que eles não compreendem,
Os coage e obriga
E eles não nos percebem,
Nossa vontade e o nosso pensamento
As mãos pelas quais outros nos guiam
Para onde eles querem E nós não desejamos.
A ode em questão terá os deuses como tema principal, ou mais precisamente a relação entre homens e deuses. Trata-se de um tema comum em Reis, proveniente da poesia clássica da antiguidade, presente especificamente em Horácio, grande inspirador deste heterônimo.
Nota-se que o sentimento presente em Reis consiste na aceitação objetiva de um fato, constatando que a relação entre os homens e os deuses é um fato tão objetivo quanto a forma como o gado se relaciona com os homens. Entretanto se algo transparece é uma clara desilusão com a realidade, pois à medida que adota a consciência da verdade, o poeta revela a inconseqüência de querer saber mais. O eu-lirico pode assim dizer-se fraturado, incapaz, mas acima de tudo consciente.
Sofro, Lídia
Sofro, Lídia, do medo do destino.
A leve pedra que um momento ergue
As lisas rodas do meu carro, aterra
Meu coração.
Tudo quanto me ameace de mudar-me
Para melhor que seja, odeio e fujo.
Deixem-me os deuses minha vida sempre
Sem renovar
Meus dias, mas que um passe e outro passe
Ficando eu sempre quase o mesmo, indo
Para a velhice como um dia entra
No anoitecer.
Inicialmente merece esclarecimento o significado do nome Lídia, que de acordo com a origem grega significa irmã, companheira. Percebe-se já de início uma das principais características do autor, o neoclassismo, visto que se apropria de um nome grego para nomear sua musa inspiradora. Outra característica marcante é a releitura da personagem Lídia nas Odes de Horácio . Em Lídia, o poeta demonstra seu sofrimento diante dos mistérios da vida.
No poema supracitado, Ricardo Reis revela um amor sem compromisso por medo do futuro. Isso porque, Fernando Pessoa passou por duas decepções amoras, uma com a traição da mãe e a outra o desprezo de Ofélia , o que vem a denotar o medo de Pessoa em se envolver profundamente e sofrer uma nova desilusão amorosa. Assim, a personagem Lídia em momento algum teve um encontro carnal com Ricardo Reis. O importante para ele é um amor sem apegos e de pequenos prazeres.
Diante do exposto, nota-se a importância da mitologia na Obra de Ricardo Reis, considerando entre outras, uma temática recorrente na literatura portuguesa, uma das características neoclássicas de Reis em traçar uma visão pagã sobre a vida.
Percebe-se ainda a visão moderna de Reis/Pessoa, pois enfatiza nos poemas as características típicas da sua forma de escrever e a utilização da palavra como representação do imaginário, contudo com a intenção de demonstrar uma sociedade moderada e de recusa ao prazer. Sendo assim, as odes analisadas revelam imagem de Ricardo Reis e as marcas presentes nas obras identificam a sua posição naquela sociedade.
REFERÊNCIAS
GRAIEB, Carlos. O baú do poeta. Disponívem em Acesso em:10/12/2009.
MIRCEA, Eliade. Aspectos o mito. São Paulo: edições Lisboa, 1970.
Lucimar Gonzaga
Rosângela Santos
O mito na poesia de Ricardo Reis
Resumo: No presente artigo pretende-se analisar o mito na poesia de Ricardo Reis, ícone da literatura Modernista portuguesa, partindo do pressuposto de que é uma representação constante em sua obra. Assim, serão analisadas algumas odes do referente poeta para uma melhor síntese.
Palavras-chave: Mito. Odes. Ricardo Reis. Literatura
Ricardo Reis, heterônimo de Fernando Pessoa, é o poeta clássico, da serenidade epicurista, que aceita, com tranqüila lucidez, a relatividade e a fugacidade de todas as coisas. “Vem sentar-te comigo Lídia, à beira do rio”, “Prefiro rosas, meu amor, à pátria” ou “Segue o teu destino” estes poemas nos mostram que este discípulo de Caeiro aceita a antiga crença nos deuses, enquanto disciplinadora das nossas emoções e sentimentos, porém defende, especialmente, a busca de uma felicidade relativa alcançada pela indiferença à perturbação.
Sua filosofia é a de um epicurista triste, que defende o prazer do momento “carpem diem” surge como abertura para a felicidade. Apesar deste prazer que busca e a felicidade que almeja conseguir, considera que jamais se alcança a verdadeira calma e tranqüilidade.
Ricardo Reis nasceu na cidade do Porto, a 19 de setembro de 1887. Estudou em colégio de jesuítas, formando-se em Medicina; politicamente, defendia a Monarquia, e por isto, se expatriou diretamente, para o Brasil em 1919. Foi um estudioso da cultura clássica, o que equivale a dizer: de latim, grego, mitologia etc.; Seus poemas foram escritos com uma linguagem contida e disciplinados, com versos puros. Existe uma grande preocupação métrica, uma vez que Ricardo Reis representa o lado clássico/neoclássico de Pessoa.
Neste trabalho pretende-se analisar o mito na poesia de Ricardo Reis, ícone da literatura Modernista portuguesa, partindo do pressuposto de que é uma representação constante em sua obra. Assim, serão analisadas algumas odes do referente poeta para uma melhor síntese.
O mito embora não seja um conceito bem definido de maneira precisa e única, configura como uma realidade antropológica indispensável, uma vez que não só representa uma explicação sobre a origem da humanidade e do mundo em que vive, como traduz por símbolos repletos de significados, o que vem a denotar o modo como um povo ou civilização entende e interpreta a existência. De acordo com MIRCEA (1994):
O mito é uma realidade cultural extremamente complexa, que pode ser abordada e interpretada em perspectivas múltiplas e complementares ele conta uma história sagrada, relata um acontecimento que teve lugar no tempo primordial, o tempo fabuloso dos começos. O mito conta graças aos feitos dos seres sobrenaturais, uma realidade que passou a existir, quer seja uma realidade tetal, o Cosmos, quer apenas um fragmento, uma ilha, uma espécie vegetal, um comportamento humano, é sempre portanto uma narração de uma criação, descreve-se como uma coisa foi produzida, como começou a existir” (MIRCEA, Eliade, 1994, p. 10).
Assim, esses dados oriundos de tempos remotos têm a ver com os temas que sempre deram manutenção à vida humana, constituíram civilizações e desenvolveram crenças através dos séculos, e têm a ver com os profundos problemas interiores, com os intensos enigmas, e com as mais intensas fronteiras da nossa travessia pela vida. Nesse sentido os mitos têm como tema essencial e fundamental que é à busca da espiritualidade interior de cada um.
Partindo desses pressupostos, Ricardo Reis adquiriu o exemplo do paganismo natural de Caeiro, onde cultiva o neoclassicismo neopagão, ou seja, tem uma absoluta crença nos deuses e nas presenças quase divinas que residem em todas as coisas, fazendo assim recorrência à mitologia greco-latina, e aprecia a brevidade e a efemeridade da vida. Considerando que sabedoria exata de vida é viver de maneira tranqüila e serena.
A perfeição verbal e a recorrência aos mitos, agregados aos princípios da moral e da estética epicuristas e estóicas ou serena resignação ao destino, são sinais do classicismo erudito de Reis. Poeta clássico da serenidade privilegia a ode, o epigrama e a elegia. Vale ressaltar que as referências aos deuses da antiguidade (neo-paganismo) greco-latina são maneiras de aludir a preferência corporal das formas, da natureza, dos aspectos exteriores, da realidade, sem cuidar da subjetividade, teorias de Caeiro, o mestre de todos os heterónimos.
Pode-se obter assim, de forma mais concreta, as características mitológicas que Reis utiliza em suas odes, dentre elas a ode “Anjos ou deuses”, escrito em 1914 .
Anjos ou deuses
Anjos ou deuses, sempre nós tivemos,
A visão perturbada de que acima
De nos e compelindo-nos
Agem outras presenças.
Como acima dos gados que há nos campos
O nosso esforço, que eles não compreendem,
Os coage e obriga
E eles não nos percebem,
Nossa vontade e o nosso pensamento
As mãos pelas quais outros nos guiam
Para onde eles querem E nós não desejamos.
A ode em questão terá os deuses como tema principal, ou mais precisamente a relação entre homens e deuses. Trata-se de um tema comum em Reis, proveniente da poesia clássica da antiguidade, presente especificamente em Horácio, grande inspirador deste heterônimo.
Nota-se que o sentimento presente em Reis consiste na aceitação objetiva de um fato, constatando que a relação entre os homens e os deuses é um fato tão objetivo quanto a forma como o gado se relaciona com os homens. Entretanto se algo transparece é uma clara desilusão com a realidade, pois à medida que adota a consciência da verdade, o poeta revela a inconseqüência de querer saber mais. O eu-lirico pode assim dizer-se fraturado, incapaz, mas acima de tudo consciente.
Sofro, Lídia
Sofro, Lídia, do medo do destino.
A leve pedra que um momento ergue
As lisas rodas do meu carro, aterra
Meu coração.
Tudo quanto me ameace de mudar-me
Para melhor que seja, odeio e fujo.
Deixem-me os deuses minha vida sempre
Sem renovar
Meus dias, mas que um passe e outro passe
Ficando eu sempre quase o mesmo, indo
Para a velhice como um dia entra
No anoitecer.
Inicialmente merece esclarecimento o significado do nome Lídia, que de acordo com a origem grega significa irmã, companheira. Percebe-se já de início uma das principais características do autor, o neoclassismo, visto que se apropria de um nome grego para nomear sua musa inspiradora. Outra característica marcante é a releitura da personagem Lídia nas Odes de Horácio . Em Lídia, o poeta demonstra seu sofrimento diante dos mistérios da vida.
No poema supracitado, Ricardo Reis revela um amor sem compromisso por medo do futuro. Isso porque, Fernando Pessoa passou por duas decepções amoras, uma com a traição da mãe e a outra o desprezo de Ofélia , o que vem a denotar o medo de Pessoa em se envolver profundamente e sofrer uma nova desilusão amorosa. Assim, a personagem Lídia em momento algum teve um encontro carnal com Ricardo Reis. O importante para ele é um amor sem apegos e de pequenos prazeres.
Diante do exposto, nota-se a importância da mitologia na Obra de Ricardo Reis, considerando entre outras, uma temática recorrente na literatura portuguesa, uma das características neoclássicas de Reis em traçar uma visão pagã sobre a vida.
Percebe-se ainda a visão moderna de Reis/Pessoa, pois enfatiza nos poemas as características típicas da sua forma de escrever e a utilização da palavra como representação do imaginário, contudo com a intenção de demonstrar uma sociedade moderada e de recusa ao prazer. Sendo assim, as odes analisadas revelam imagem de Ricardo Reis e as marcas presentes nas obras identificam a sua posição naquela sociedade.
REFERÊNCIAS
GRAIEB, Carlos. O baú do poeta. Disponívem em
MIRCEA, Eliade. Aspectos o mito. São Paulo: edições Lisboa, 1970.
domingo, 13 de dezembro de 2009
Ninguém a Outro Ama
Ninguém a outro ama, senão que ama
O que de si há nele, ou é suposto.
Nada te pese que não te amem. Sentem-te
Quem és, e és estrangeiro.
Cura de ser quem és, amam-te ou nunca.
Firme contigo, sofrerás avaro
De penas.
RICARDO REIS
O que de si há nele, ou é suposto.
Nada te pese que não te amem. Sentem-te
Quem és, e és estrangeiro.
Cura de ser quem és, amam-te ou nunca.
Firme contigo, sofrerás avaro
De penas.
RICARDO REIS
No Ciclo Eterno
No ciclo eterno das mudáveis coisas
Novo inverno após novo outono volve
À diferente terra
Com a mesma maneira.
Porém a mim nem me acha diferente
Nem diferente deixa-me, fechado
Na clausura maligna
Da índole indecisa.
Presa da pálida fatalidade
De não mudar-me, me infiel renovo
Aos propósitos mudos
Morituros e infindos.
RICARDO REIS
Novo inverno após novo outono volve
À diferente terra
Com a mesma maneira.
Porém a mim nem me acha diferente
Nem diferente deixa-me, fechado
Na clausura maligna
Da índole indecisa.
Presa da pálida fatalidade
De não mudar-me, me infiel renovo
Aos propósitos mudos
Morituros e infindos.
RICARDO REIS
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